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Reflexões 17.06.01

  • Foto do escritor: Lu_rsr
    Lu_rsr
  • 15 de jan. de 2024
  • 7 min de leitura

Atualizado: 16 de jan. de 2024

O GRITO SONEGADO

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Texto inspirado no espetáculo WELTANSCHAUUNG

Experiência originária do Imersão GRUPO GENTE

Em agradecimento a todos os envolvidos

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Tantas pessoas a nossa volta.

Em sono profundo.

Em estado inerte.

Por que não percebemos aquele ser que se mexe logo ali ao nosso lado?

No escuro, ele dança ao som do silêncio.

Não viu?

Não ouviu?

Tudo bem.

Vamos contemplar isso outro dia.


Que dia?


Logo ele se juntará a nós e, então, vazio teremos em seu lugar.

O vazio que tão bem conhecemos.

O vazio que enche nossos peitos dia após dia.

O vazio que cala nossas emoções.


Acordamos com um estouro?

Um chute.

Da alma.

Do dia.

Da vida.

Alguém te chama?

Alguém te ergue?

Alguém te guia?

Aquelas mesmas pessoas nos olham.

Rostos amigos?

Mas tão pouco conhecidos.

Seres estranhos?

Mas inexplicavelmente vivos.


Por que fugimos, quando nos cercam?

Por que fechamos, quando querem entrar?

Por que ocultamos, quando querem saber?

Se somos nós quem está cercando;

Se somos nós quem tenta entrar;

Se somos nós quem quer saber.


Nossas ações são reflexos.

São espelhos.

Caminhamos conforme aqueles rostos amigos.

Andamos opostamente àqueles seres estranhos.


Por quê?


Temor de sentir nossas próprias pernas?

Receio de descobrir o diferente?

Medo de explorar o desconhecido?

Mas não somos todos estranhos e desconhecidos?


Cada individuo que nasce.

Cada ser que surge.

Cada vida que se origina.

Olhos novos.

Percepções variadas.

Vivências diversas.

Como seria perceber o que o outro tem a nos oferecer?

Encontrar a particularidade de cada individuo.

Nas minúcias.

Nos detalhes.

Se valer das possibilidades que existem na combinação das nossas distintas existências.


Se há um bebê no quarto, se há um filhote na sala, somos os primeiros a cercá-los com nossos dedos, com nossos mimos.

Mas não somos nós quem tenta fugir quando nos cercam?

Por que, então, ao seu primeiro choro, ao seu primeiro latido nos irritamos?

Criamos até aversão à situação.

Não percebemos sua respiração ofegante.

Não percebemos sua imobilidade assustada.

Eles apenas nos comunicam pelo som.


O som que não mais ouvimos.


Naqueles olhos em que tudo é novo, tudo é diferente, será que eles não podem demonstrar seu medo?

Seu assombro?

Será que não podem pedir por um pouco de tempo?

Um pouco de espaço?


O tempo que não temos.

O espaço que não percebemos.

Mas seguimos.

Seguimos com o que sabemos.

Seguimos com o que ansiamos dos outros.

Seguimos com o que não nos desprendemos.


Vê aquela caixa ali?

Igual a sua.

Idêntica a dele.

É minha.

Alinho conforme a sua.

Giro conforme a dele.

Perfeito.

Até que alguém nos tira o chão.

Até que algo nos abala profundamente.

Um furacão que passa e arruína nossa sistemática.

Nos perdemos.

Nos desesperamos.

E tão logo insistimos em voltar ao que já sabemos.

Ao que já conhecemos.

Lutamos pelas mesmas caixas.

Saciamos desejos que nunca foram nossos.

Buscamos o conforto que nunca tivemos.

Aquele vazio com o qual já sabemos lidar.


Como seria se a cada queda erguêssemos de uma forma diferente?

Como seria se víssemos nos outros um conselho e, não, um espelho?

Como seria se percebêssemos nos nossos erros as oportunidades?


Não temos tempo para pensar a respeito.

Nem espaço para construir essa reflexão.

Logo mãos nos forçam a voltar à rotina do esquecimento.

Agimos por osmose.

Fazemos por demanda.

Vivemos por influência.

Mas, em um instante de lucidez, o segredo nos é revelado: somos marionetes de uma sociedade.

Somos fantoches de uma ideologia.


Caminhamos.

Levamos conosco nossas conquistas mundanas.

Nossos conhecimentos entorpecidos.

Nossos retalhos molestos.

Seguimos para um novo lugar.


Qual?


Algum que possamos nos sentir exatamente da mesma forma.

Já conhecido pelos outros.

Familiar.

Sem essência.

Sem esforço.

Sem dor.

Mergulhamos no abismo oculto.

Buscamos um sentido material.

Aceitamos o vazio acolhedor.

Nos confortamos com uma realidade inexistente.


A quem confiamos nossos corpos?

A quem confiamos nossos pensamentos?

A quem confiamos nossas almas?

Senão àquelas mãos que nos empurram;

Àquelas mãos que nos ordenam;

Àquelas mãos que nos cegam.


Nossas mãos.


Não são nossos os princípios de entrelaçar com o cordel da inverdade?

Não são nossas as façanhas dos artifícios para submissão?

Dedos que manipulam marionetes.

Dedos que articulam fantoches.


Nos prendemos ao que nos é ostentado.

Nos ocupamos com o que nos é determinado.

Nos apossamos de um trono imaginário.

Ignoramos as propriedades de um gesto sutil.

Desprezamos a aspereza, os calos, as rugas nos dedos.

Massacramos as virtudes das nossas mãos.


Como seria se oferecêssemos com as nossas palmas uma perspectiva de vida?

Como seria se encontrássemos naquelas mãos as visões de mundo e, não, as luvas da conduta?

Como seria se víssemos naqueles dedos as possibilidades de percursos e, não, as direções de nossos desígnios?


Há dias em que corremos.

Corremos ao permear nossos pensamentos.

Corremos da verdade que nos bate à porta.

Corremos do mundo que desconhecemos.

São os dias que lembramos quem somos.

São os dias que duvidamos da nossa realidade.

São os dias que questionamos nossa existência.

Despertamos.

Compreendemos.

Desacreditamos.


Encontramos a voz da consciência.


Ouve aqueles múrmuros?

Pensamentos que um dia foram seus.

Pensamentos que amanhã serão meus.

Pensamentos que o ontem já esqueceu.

Nossas dúvidas e angústias verbalizadas por uma voz que se cala.

Quando tiram nosso apoio.

Quando oprimem nosso espaço.

Quando nos forçam a voltar para a ideologia fictícia.


Por que não entendemos que apoios se fortificam com outros pontos de vistas?

Por que não percebemos quantos espaços se criam pelo nosso deslocamento?

Por que não vemos que a única realidade é a que escolhemos?


Dedos fecham nossos olhos.

Mãos calam nossos gritos.

Braços nos tiram do resplendor.

Lutamos?

Resistimos?

Somos exauridos pela desmotivação.

Pela indolência.

Pela descrença.

Cedemos às forças que interrompem nossas percepções do

universo.

Nos banhamos nas cachoeiras do desamor.

Nos afogamos nas águas da passividade.


Exigimos dos outros o que um dia nos foi exigido.

Tudo que nunca alcançamos.

Tudo que jamais conseguimos.

Tudo que clamam ser nosso melhor.

Moldamos aqueles que um dia fomos nós.

Que trazia a ingenuidade nos olhos.

Que trazia a sensibilidade no peito.

Por que não somos afáveis?

Por que não vemos o potencial no desconhecido?

Por que não percebemos um novo ciclo?


Nossos peitos que barram.

Nossos braços que moldam.

Nossas mãos que sufocam.

Como seria se andássemos sem esse véu da indiferença?

Como seria se expressássemos nossas ideias sem esse filtro do receio?

Como seria se agíssemos sem essa venda de imposições?


Nossas mentes estão ocupadas.

Com as falsas verdades.

Com as respostas ambíguas.

Com a realidade distorcida.

Não há espaço para refletirmos.

Nem tempo.


Nosso tempo está destinado à contemplação das mídias.

À busca de um novo espelho.

Tão logo nossos desejos e anseios.

Induzidos.

Somos regidos por um ideal de beleza.

De consumo.

De exposição.

Por que nos prendemos tão facilmente à imagem e atentamos tão pouco às informações, aos detalhes, às emoções?


Nos embriagamos com a taça do pretexto.

Nos drogamos com as ervas do escape.

Para nos sentirmos parte desse mundo fictício?

Para termos a quem culpar por extravasarmos nosso EU?

Para nos encontrarmos cada vez mais próximo ao fim do abismo.


Sabe esse vazio que você sente?

Que te sucumbe?

Que te asfixia?

Que te mata dia após dia?

É o mesmo que preenche meu peito.

É o mesmo que dificulta meus pensamentos.

É o mesmo que tortura meus sentimentos.


Não sabemos ouvir a história das nossas células.

Não sabemos apreciar a singularidade de nossas características.

Não sabemos amar a quem o espelho nos mostra ao acordar.


Quão frustrante é se ver numa foto em que você não é você?

Você é uma imagem.

Alterada.

Preenchida por base, pó, sombra.

Calculada.

Desenhada por um computador.

Sem olheiras. Sem rugas. Sem fios brancos.

Sem sua pele. Sem suas marcas. Sem sua vida.

Uma imagem que nem você mesmo pode dizer ser real.


Alcançável.


Ficamos horas apreciando uma beleza inexistente.

Ficamos dias visando conquistas alheias.

Ficamos anos caminhando sobre nuvens de desdém.

Julgamos.

Condenamos.

Roubamos.

Matamos.

Morremos.


Por dinheiro.


Um montante nunca suficiente para comprarmos aquela (nova) imagem.

De lançamento.

Da moda.

Do dia.

Do mês.

Do ano.


Como seria se encontrássemos nos espelhos a pluralidade dos nossos verdadeiros EUs?

Como seria se permitíssemos que um passeio no parque fosse nossas férias do dia a dia?

Como seria se percebêssemos que aquela folha que caia próximo ao nosso ombro se tratava do primeiro voo de uma borboleta?


Dançamos ritmos conforme receitas.

Não aquelas da vó Cultura.

Nem aquelas da tia Folclore.

Muito menos aquelas da mãe Vida.

Mas aquelas que nos é vendida.

Aquelas da mídia.

Como seria se sentíssemos a infinitude de movimentos das ondas do som?

Como seria se refletíssemos a melodia nos nossos variados corpos?

Como seria se expuséssemos a harmonia criada pela energia dos nossos Espíritos?


Nem mais à música permitimos acesso.

Apenas aceitamos.

Aceitamos o que nos foi regrado.

O que já foi julgado.

O que promete engrandecer nosso peito.


Vazio.


Que realidade é esta que nos vemos?

Imaginada pelas revistas.

Fantasiada pela TV.

Cantada pelas rádios.


Dinheiro.

Posses.

Maquiagem.

Salto alto.

Terno.

Gravata.

Drogas.

Álcool.

Cigarro.


O que nos faz levar à boca, ao corpo, ao Espírito uma morte lenta, fria, indolor?

Conforto?

Ilusão de uma felicidade efêmera?

Insegurança.

Desinteresse.

Desespero.

Descrença.

Pressão de uma sociedade que não te vê?

Que não te ouve?

Que não te deixa falar?


Mas não são eles que te calam.

Não são eles que te cegam.

Não são eles que te ignoram.


Somos nós.


NÓS somos a sociedade.

NÓS nos deixamos cegar.

NÓS não ouvimos.

NÓS não nos deixamos falar.


Mas aquelas mãos.


Aquelas mãos nos forçam a voltar.

Nos forçam a existir numa realidade paralela, apática, delimitada.

Por que somos tão vulneráveis?

Tão moldáveis?

Tão inexpressivos?

Por que nos endividamos com esta realidade que nos é vendida?

Por que acreditamos tão piamente no cultivo desse vazio ensurdecedor?


NÓS quem compramos.

NÓS quem semeamos.

NÓS quem veneramos.


Será que somos incapazes de perceber que temos controle sobre nossas mãos?

Que podemos empurrar aqueles braços, nossa sociedade de volta?

Que temos uma força maior que todos aqueles músculos definidos?


NÓS temos a riqueza da Alma.

NÓS temos a força do Espírito.


Como seria olhar nosso mundo de cabeça para baixo, de lado, pendurado?

Como seria encontrar na materialidade suas cores, suas texturas, seus cheiros, suas temperaturas?

Como seria inspirar o ar da solidariedade?

Como seria expirar o espaço da generosidade?

Como seria ver o mesmo mundo sob outra perspectiva?


Tira esse plugue que te comanda.

Tira essa máscara que te sufoca.

Tira essa roupa que te consome.


Respira.


Respira o ar da Verdade.

Respira o ar da Graça.

Respira o ar da Vida.


Agora olha.


Olha para quem está ao seu redor.

Olha para as nossas crianças.

Olha para todos aqueles seres diferentes aos seus olhos.

Existe beleza maior do que esta diversidade?


Somos luz de várias nascentes.

Somos feixes de um Oceano.

Somos irmãos, primos, parentes.

Ofereça a sua alma, ainda que não saibam reconhecer.

Dê a oportunidade para descobrirem, assim como um dia alguém o fez por você.

Esteja aberto.

Seja receptivo.


Sinta.


Sinta todas as sensações geradas por esse espaço.

Sinta todas as sensações criadas por essa composição.

Eu.

Você.

Nós.

Eles.


Sinta o calor da nossa presença.

Sinta as intenções dos nossos passos.

Sinta o impulso gerado pelo movimento do nosso conjunto.

Sinta a singularidade de cada instante.


Perceba.


Perceba as virtudes, conquistas, aspirações das atitudes mais singelas, dos gestos mais sutis.

Perceba a árvore que cresce com as ramificações de nossos pensamentos.

Perceba a cascata que se forma ao conectarmos nossas quedas.

Perceba quantas riquezas se criam ao nos darmos as mãos.

Como seria a foto dessa roda de visões de mundo?


Juntos podemos descobrir o brilho da serenidade.

Juntos podemos encontrar o valor de todos os nossos EUs.

Juntos podemos ativar as emoções latentes em nossos peitos.


Juntos podemos VIVER.


Escrito por @Lu_RSR

Veja também ao video desta experiência:

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