Escritas 25.04.01 - SOMOS. OU EXISTIMOS?

SOMOS. OU EXISTIMOS?

Não me julgue. Não me enquadre. Não me engesse. Não tire de mim a nossa integridade. Eu sou seus olhos. Seus horizontes. Seus pensamentos. Eu sinto ao Sol que nos banha. Eu sinto aos rios que nos movem. Eu sinto ao solo que nos conecta. O céu. A Galáxia. O Cosmos. Não olhe para mim. Olhe por mim. Te empresto a mente do passado. Te empresto o coração do futuro. Te empresto o sangue do presente.

Jogue minhas palavras, meus afetos, minha existência na memória do esquecimento. Essa materialidade não é minha. Nunca foi. Eu sou essência. Eu sou Luz. Eu sou Escuridão. Essa prova, essa concretude, essa rigidez são de uma Cultura, de um Estado, de uma Nação para os olhos e para as mentes. Apague meus desenhos, meus cantos, minhas formas. Eu renasço nas suas palavras, nos seus afetos, na sua existência. Não me condene por ser parte de sua integridade ou estará condenando a si próprio. Encontre, em mim, o nosso Lugar. O que nos une, nos inspira, nos move. Minhas mãos são suas mãos. Meus pensamentos são seus pensamentos. Meus respiros são seus respiros. Somos a unidade do eterno. Ainda que sejamos muitos de seus finitos. Somos o plural de um singular. Ainda que sejamos o singular de um plural. Somos o coletivo de um indivíduo. Ainda que sejamos o indivíduo de um coletivo.

Não há como alterar seu dia sem alterar sua noite. Não há como alterar sua consciência sem alterar seu afeto. Não há como alterar seu Tempo sem alterar seu Espaço. Estamos todos conectados pelo movimento vital, energético, cósmico. Não existe dependência, mas coexistência. Entre tudo e todos. Eu recebo de ti e dou para ele. Com a mediação do meu Ser. Eu recebo dele e dou para ti. Com a mediação do meu Existir. Todos compomos e somos compostos. Todos decompomos e somos decompostos. Em tempos próprios, alternados, intercalados, interconectados por espaços livres, vazios, disponíveis ao comum, ao compartilhado, ao encontrado, ao acolhido.

O que sabe sobre mim? Não mais do que sei sobre você. Nada e tudo. Depende do contexto. Depende do Tempo, do Lugar, do Ser, do Todo. O que lhe traz a minha existência? Senão sua própria existência? Me encontra em seu espelho. Me reconhece em seu pensamento. Me sente em seus afetos. É maior do que as palavras. É maior do que as imagens. É maior do que os sons. A energia ressoa. Dança. Recompõe. Reorganiza. Vibra a coerência das existências.

Não somos dias e noites. Não somos segundos, minutos, horas. Não somos décadas, séculos, milênios. Somos Norte. Somos Sul. Somos Leste. Somos Oeste. Somos o vento dos Sentidos. Somos o movimento das Essências.

Não somos primaveras, verões, outonos e invernos. Somos o florecer, o ressoar, o imergir, o encontrar. Somos a passagem das Regenerações. Somos o desenvolvimento das Inspirações.

Não encontrará pausas em meus pensamentos, nem ritmos ou constância, mas respiros. Respiros curtos. Respiros profundos. Respiros internalizados. Como água, eu fluo. Como terra, eu sinto. Como ar, eu busco. Como fogo, eu expando. Como metal, eu encontro.

Silêncio, venha. Me abrace, me acolha. Não deixe que as respostas me atropelem. Não permita que a justiça me aprisione. Não consinta que as imagens me congelem.

Não é fácil ser você. Não é fácil ser eu. Mas é orgâncio sermos vivos. Porque a Vida não me dá escolha, nem quer a sua opinião. A Vida apenas nos oferece contextos. Contextos que nos movem em Tempo e Espaço pelos fluidos dos Encontros. Nenhum conhecimento é unicamente meu. Nenhum feito é unicamente seu. Nós somos mais do que rios e lagos. Nós somos mais do que nascentes e correntezas.

Nós somos as águas doces e salgadas, quentes e frias que unem as Terras e os Céus. Nós giramos em eixo. Nós giramos em órbita. Somos mais do que um sistema biológico. Somos mais do que um sistema binário. Somos um Universo de Luz e Escuridão. Eu não forço a atração. Eu não forço a repulsão. Eu apenas me movimento pelos Cosmos. Eu me adapto. Eu me disponho. Eu aceito ao nosso incerto. Eu ofereço o meu Tempo a quem me cede seu Espaço para dançarmos na Sinergia do Encontro. Conduzo e sou conduzido pelas essências dos Seres. Pelas composições dos Elementos. Somos. Ou existimos?

Nessa Terra, a maré me atravessa em imprevisibilidades, me banha em possibilidades, me reloca em disponibilidades. Quem sou? Onde estou? Quando me apresenta as estrelas e constelações entre seus filhos, entre meus irmãos? Quando essa imensidão, esse vazio, esse infinito nos aproximam, nos unem, nos integram? Em seu ventre, estamos. Em seu amor, somos. Universo, meu pai. Terra, minha mãe. Tecemos a sinergia que nos guia pela efemeridade do Ser. Nos envolve no manto do Florescer. Nos liberta na aura do Transcender.

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Escrito por @lu_rsr