Escritas 25.10.01 - NAS IMAGENS DO CREPÚSCULO
- Lu_rsr

- 21 de out.
- 4 min de leitura
Hoje eu caminho pelas raízes das sombras. No oculto da mente. Nas trevas do corpo. Peça da noite, carícia do sono, orquestra do conto. Durma em meu leito e descubra ao meu vento. Sinta à maresia do meu tempo. Em pisos de água. Em paredes de cascatas. Em telhados de chuva. Ande pelos mares do invisível. Ouça ao farfalhar das estrelas. Sinta às névoas do adormecido. Fantasia ou ilusão?
Fechemos aos olhos e vejamos às dimensões. Na arte do dormir, as telas se apagam e as conexões se abrem. Eu crio. Eu sinto. Eu vivo. Com mãos de nuvens, alcanço ao nosso entrelaçar. Por que teme aos passos de fulgor, aos toques de cometas, às faces de sombras? Não sou eu quem desenha às águas em centros de vulcões, às lavas em picos de geleiras, às neblinas em profundezas de oceanos?
Em seu corpo, eu me conecto. Em sua mente, eu me entrego. Diversas são as silhuetas que me dão. As aparências que me traçam. Os pesos que me ancoram. Quando eu sou quem perpassa a matéria e o etéreo. Opto pelo breu quando a mim tentam encontrar. Nos véus dos que sonham, sublimo aos nós desgastados. Desconfortos, inseguranças, angústias? As pedras que correm pelas depressões.
Um cesto de temores, uma mochila de aflições, um casaco de desconexões. Pego, para mim, as névoas de seus deslumbres. Devolvo, a você, as tempestades de um florescer. Não entende o que não sente, só alimenta à âncora dos alienados. Nós, pedras e escuridões. Movo um a um para o porto das fênix. Tamanhas viagens sem esperar pelo destino. De pensamento em pensamento, eu busco ao ninho.
Até que abre aos seus olhos e se fecha para os sentidos. Paralisia do sono? Ou das conexões? Pupilas arriscam oscilações de gritos. Teme a quem se desfigura. Ou se desvirtua? Num tênue vínculo entre imagem e realidade, me vê. Olha sem saber me encontrar. Sobre seu corpo, eu resido. Sobre seu peito, eu transpasso. Sobre seu elo, eu atrelo. Um instante. Um lugar. Um afluir. Eis aqui as minhas mãos.
Sou eu quem te paralisa? Ou você quem me aprisiona? Desgastamos ao corpo e condenamos à mente num desconectar de Tempos. Se me sente, me encontra. Eu ouço ao que não diz, eu vejo ao que ignora, eu acolho ao que descarta. Eis aqui o peso que nos afunda, nos acorrenta, nos afasta. Alucinações? Ou incompreensões? Pulveriza ao medo em sua temporalidade. Deforma à atmosfera de nosso encontro.
Cria às imagens, às fantasias, aos romances do esgotamento enquanto busco aos fios que o mantém sã. Julga aos olhos e condena aos sentidos. Em seu sono, eu costuro e descosturo as dores dos apocalipses. Os processos de um viver e desviver. Os cais do adeus e do amanhã. Ao seu olhar, eu reivindico sua vida. Mas como posso eu constituir o inconstitucional? Em olhos secos, as lágrimas se dissolvem.
Eu nasci doente. Doente de Sociedade. Doente de Estado. Doente de Humanidade. Culturas me maquiam como deformidades de um não-existir. Crenças me pintam como inconformidades de um imaginar. Grupos me ancoram como males de um descrer. Quando apenas desenho às inspirações apagadas, aos amparos dormentes, aos sentidos silenciados. Um renascer para os desatados.
Por que delega aos olhos a razão de seus pensamentos? Quando, num único arrepio, cenários se manifestam. Não há horrores nem encantos, apenas rios do Tempo e fluídos da Esfera. Para além da generosidade dos sentidos está o abraço ao incompreendido. A receptividade ao acaso. A curiosidade ao incerto. Você existe num elo entre a luz e as trevas. Eu existo num elo entre a imagem e os sentidos.
Respira. Não sou eu quem lhe tira o ar, nem sobrecarrega aos seus pulmões. Acalme-se. Não sou eu quem sufoca aos sentimentos, nem aflige às suas emoções. Mexa-se. Não sou eu quem limita as suas ações, nem restringe aos seus movimentos. Nas lendas, eu me apresento; nas noites, eu embarco; nas mentes, eu compreendo. Caminhos de um alucinado? Ou do inesperado? Juntos, existimos.
Pode dormir. Pode sonhar. Pode se abrir para o estrelado. Confie na entrega da noite. Entre sussurros de astros e ensaios dos planetas, os horizontes se movem. Nos movem. Sinta, em minhas mãos, o pulso que nos conecta. Liberte aos pensamentos de sua razão. Deixe-os percorrerem aos rios de suas origens. Deixe-os desaguarem em mares de percepções. Deixe-os encontrarem às fênix do amanhecer.
Quando me vir, me acolha, me sinta, me encontra. Transpasse a imagem de seus olhos e busque às falas de seus sentidos. Eu estou com você. Eu estou em você. Somos parte de um único Universo. Coexistimos. Na nossa cooperação reside a verdade dos mundos. Dos sonhos. Das realidades. Dos vínculos. Das coerências. Por que vestir às incompreensões como pulsos de horrores?
Desprenda-se. Da noite. Do dia. Da imagem. Do previsto. Do esperado.
Cante comigo e encontrará a sua voz. Dance comigo e encontrará aos seus passos. Sinta comigo e encontrará aos seus sentidos. Abra à mente e entenderá que o corpo não é um limite, mas uma passagem. Passagem das energias, dos Tempos, das dimensões desse Universo. Não há espaço para a moléstia quando as águas fluem. Nas trevas, elas me banham. Em sua mente, elas restauram.
Fluamos. Nas sombras das raízes. No frescor das cinzas. Nas faces dos voos. Como poderia eu caminhar sobre as matérias ou aspirar ao seu consumo? Eu flutuo. Entre ninhos e ninhadas. Entre pedras e penhascos. Entre nós e novelos. Cuidando das trevas quando vivemos aos dias. Cuidando das imagens quando sentimos às ondas. Cuidando das angústias quando abraçamos às essências.
----
Escrito por Lu_rsr

Comentários