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Reflexões 24.03.01

  • Foto do escritor: Lu_rsr
    Lu_rsr
  • 22 de mar. de 2024
  • 6 min de leitura

Atualizado: 11 de abr. de 2024

UNIDADE OU PARTE?

 

O que definimos como “sonho” não é um sonho em si. É um desejo materializável com poucos ou para um. Tem uma ordem mais palpável, mais exequível. Porque somos condicionados a pensar que existe “um método” para alcançá-lo – ou não seria “sonho”. Assim nos limitamos a “desejos de ordem humana”. Mas encontrar a Paz e ao equilíbrio ecossistêmico não é um desejo. É algo intrínseco. Maior. Algo como a gravidade. Não sentimos em condições naturais, mas existe, age sobre nós e o mundo, ao mesmo tempo que nos mantem “aterrados”. Onde estão os princípios das formas e das causas? Como são as forças catalizadoras? Por onde circula a nossa motivação? Como uma “afirmação” pode ser considerada como sonho? As orações sempre foram somente possibilidades. Mas não existe, na expressão da linguagem verbal, uma frase que seja absorvida como uma possibilidade – só, talvez, quando rodeada por um contexto verbal aberto e interativo. Então como fazer o sentido real do sonho caber em palavras?

 

O sonhar coletivo se desiludiu nas oportunidades.

 

Quando pensar em “oportunidade entre nós”, nos trouxeram termos como “contrapartida”. Porque só existe na mentalidade contemporânea a possibilidade de “eu querer algo em troca” em tudo o que faço. Quando compartilho por acreditar podermos construir um terceiro elemento: nem meu, nem seu – mas nosso. Em perspectiva de um contexto mais oportuno para o desenvolvimento daqueles em esfera próxima, respeitando as limitações que se manifestam. Há uma necessidade humana de vivenciar para poder perceber o “diferente” da linguagem verbal (os sentidos “falam mais alto” e por si). Vivenciando ao “meu processo”, a partir de suas percepções e experiências, possibilitamos a compreensão do quanto não “metódico” nem “delimitado” um processo precisa ser para atender à flexibilidade das transformações e diversidade das singularidades. Não existem expectativas quando nos situamos na realidade, na natureza, na complexidade do mundo. Existem apenas percepções, instintos e relações com o mundo (o que hoje categorizamos como “consciência”). A motivação, em essência, está naquilo que nos permite experienciar (percepção), compartilhar (reflexão), apreender (aprendizagem) e desenvolver (desafio/ sobrevivência).

 

E, ainda que estejamos abertos ao Pertencer, chegamos de um lugar fascinante, encantador, sedutor. Onde a problemática do sistema se perpetua: não seria o propósito aquele desejo materializável? Uma falsa esperança ou forçada motivação que nos ilude a continuamente alimentar ao sistema que nos devora? Quem criou ao conceito de propósito, esperança e motivação fomos nós, humanos. Que dentro de um sistema de consumo é fundamental para existência. Por séculos vivemos sem “determinar um propósito”, “encontrar esperança”, “cultivar motivação”, “encontrar uma missão de vida”. Todos esses conceitos verbalizados nos obrigam a uma materialidade como resposta. Como que eu descreveria a imaterialidade inalcançável? Nem posso, porque precisamos “determinar um tangível”.

 

Ao mesmo tempo, simplificamos, reduzimos, definimos o Cosmo (e suas “forças agentes”). Como se dominássemos os saberes da Existência (ou precisássemos disso para sobrevivermos). “A curiosidade matou o gato”. Nós somos parte, não unidades. Partes são sistemicamente limitadas e dinamicamente remoldadas pelo todo. Unidades não tem forma, nem limites. São isoladas, unitárias, inférteis. Não consigo ver ao todo se não sou intrinsicamente sua parte. Mas nós optamos por nos repartirmos – única forma para determinar algum tipo de “variável”, única forma de estabelecermos algum tipo de “controle”, única forma de estabelecermos algum tipo de “resposta”. E, se essa “unidade” não for satisfatória, eliminamos. Buscamos outras, menos complexas (a níveis de compreensão humana), que aceitem nossa repartição.

 

Continuamente construímos ao cenário ilusório e iludido. Onde todos “concordam”, mas na hora do “praticar aquilo que eu afirmo”, não é a consciência quem faz a ação ou impacta (apenas é impactada). “Faça o que eu falo, não faça o que eu faço”. Por isso não precisamos de “conscientização” ou “escolarização” (em sua forma simplificada de mercado do conhecimento). A consciência é a principal vulnerabilidade que mantem o homem contemporâneo em seu vício – dentro do domínio da linguagem verbal. Eu posso ter todas as informações que me favoreçam, mas se me apontam um risco (como se tudo não envolvesse risco), eu escolho me reduzir, me limitar, me manter na “dor do ontem” (o que apelidamos “zona de conforto”). “Se outros morrem, não sou eu morrendo.” Pense de novo. Nos limitamos à morte. À unidade. Não pertenço ao Existir. Ninguém nos dá a opção de um dia sem interações / intensões monetárias – mas longevidade de cadáveres cujo pensar se definha à simplificação do consumo capitalista. Eu cedo o meu viver para a virtualidade de um Banco. Quando somos pertencentes da real Natureza e, cada dia que me afasto dela, adoeço em sentidos, me enfraqueço, me automutilo.

 

“Qualquer pequeno avanço”, “qualquer pequena ação”, “qualquer pequena contribuição”. Frases que caíram em nossa expressão diária. “Qualquer” é inespecífico, indefinido, impessoal e, portanto, nos leva a mentalidade confortável de que “algo está sendo feito”. Não está. Porque não pertence a mim, ao meu contexto, ao meu viver, ao todo. Me coloco na unidade – não na parte. A gratidão de um prato de comida a mais para uma pessoa não elimina a dor e a real urgência de outra que não pôde ser acolhida por nós hoje. Mas uma colherada a menos no prato de cada um de nós para montar todos esses outros pratos que faltam é inviável. Porque não sou parte do cosmo – sou unidade de medida, de tempo, de pesquisa. Sou descartável ou substituível por outra unidade comprável – um robô.

 

Por que pensar no significado de “nascimento” se posso produzir unidades humanas em laboratório? Por que pensar no significado de “morte” se posso plastificar as células e exauri-las em sua meia vida? Por que pensar no significado de “humano” se posso criar o avatar que eu quero? Sou unidade.

 

Eu adoto “humano”, “morte”, “vida”, “nascimento” como parâmetros de entendimento. Nós criamos a todos esses conceitos e esquecemos de abraçá-los com seus significados. Somos partículas do cosmos em constantes rearranjos. Nele estamos, nele pertencemos. Sob variadas formas, velocidades e densidades. Nós existimos. Como ventos e águas. Como fogo e terra. Como animais e vegetais. Como seres múltiplos e indivisíveis. Como elementos essenciais da energia que nos mantém em movimento, em fluidez, em transformação.

 

Criamos idealismo ao nascimento. Criamos aversão à morte. Esquecemos do Sagrado. Os rituais se reduziram a festividades sobre um ou poucos. Tudo e todos pedem ao nosso respeito na natureza da coexistência. O silencio, a dor, a tristeza fazem parte da estrutura que nos formam, assim como as artes, a reflexão, a socialização. Não podemos ser exclusivamente únicos, assim como não podemos ser exclusivamente ao todo. Apenas sentimos, compreendemos, coexistimos. Somos singulares em um plural. Não temos como ser partículas sem um contexto de partículas. Não temos como ser espécies sem um contexto de espécies. Não temos como ser um planeta sem um contexto de planetas. Nem mesmo o cosmo existe sem um contexto de cosmo.

 

Mas preferimos ao binário. A genética do monopólio. Os extremos que renego ou idolatro. A faísca do outro extremo me tira da monotonia desse extremo. Tão logo chegamos ao fogo. Para nos queimar e pulverizar. Nosso contínuo fantasiar entre unidades. Como posso almejar e comprar ao belo se não repudio e vendo ao feio? Como posso almejar e comprar à imagem se não repudio e vendo a baixa-estima? Como posso almejar e comprar ao privilégio se não repudio e vendo a desvantagem? Unidades que passamos de um lado para o outro. Um crescente criar de conceitos, teorias, eloquência que nos leva à faísca binária. O ilimitado está atrelado ao pêndulo dos extremos. Os preconceitos, os direitos, os afazeres. Eu excluo tudo aquilo que eu não incluo. Se não vejo ao outro como parte, coloco-o em outra unidade. De capacidade, desenvolvimento, pertencimento. Diferente daquela que determino como a minha unidade. Nos camuflamos em redes de unidades. Onde consigo “aproveitar melhor” a minha ilimitação e “me envolver” pelo tempo que me interessa. E daí eu troco. Ou me trocam. Por outra unidade, um robô.

 

Flexibilidade. Ponderação. Adaptação. Eis a realidade do respiro, da atenção, da percepção, da contemplação. Onde você toca ao mundo? Como você move ao respeito? Quando você ampara ao tempo? Por que você afeta ao outro? 


Eu vivo aquilo que me falam, assim como vivo aquilo que eu falo. Porque sou parte. Tudo e todos me transformam, assim como eu transformo a tudo e a todos – quando também sou percebida como parte. Porque somos o todo. O contexto. A Existência. Encontrar aos nossos limites é encontrar às potencialidades para o novo. Quando pertenço. Nossa remodelagem dentro desse todo.

 

A sabedoria pertence ao holístico. Naqueles que acessam a sua parte do todo, que recebem às demais partes em suas necessidades e limitações. Quando as expectativas são destinadas à remodelação natural. Eu aprendo com as outras partes do meu todo, assim como ensino a cada uma delas.

 

Enquanto tentamos salvar ao mundo, nosso entorno se descolore, nossa visão se ensombra, nossa vida se desfalece. Paremos de tentar alcançar o tangível. Paremos de fantasiar descobertas do futuro. Paremos de metrificar monetizações. Tornemos o nosso agir aquilo que está ao alcance de nossas mãos. Não de nossas crenças. Não de nossas moedas. Não de nossos prazeres. Não de nossos confortos. Não de nossas ilusões. Somos uma essência. Somos um contexto. Somos o Presente.


Escrito por @Lu_RSR

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