Escritas 24.01.02

Alguns se indignam com a falta de energia. Alguns se impressionam com as dimensões das árvores que os ventos levam consigo. Mas quem se sensibiliza com a mutilação e o rejeite desses seres vivos, desse reino vegetal que por anos, séculos, décadas, milênios resistiu às circunstâncias impostas pelos humanos? Os leitos cortam a raízes e as calçadas as sufocam; as construções as isolam de sua família, assim como as privam de insolação; o embonecamento as fecham para tantos outros seres vivos que um dia vieram a nutrir-se dela.  

Quando a natureza, nosso Habitat, tornou-se empecilho da nossa existência? Não foi só às árvores, às vidas, às rotinas que os elementos transformaram e transformam em seu movimento. A apreensão do que se passa no momento, a compreensão das circunstâncias que nos impactam, o luto daquilo e daqueles que nos contextualizam e nos formam enquanto indivíduos também foram e são evocados. Mas nos atemos ao retorno das materialidades de águas turvas, tóxicas e viciadas de um aquário. Ilusões de ambientes controlados, dominados, livres de finitude. Reinos comprados pelo conforto dos prazeres da passividade e da irresponsabilidade. Negamos e negligenciamos ao nosso Habitat.

Sagrado envolve mais do que as religiões são capazes de descrever e que a linguagem é capaz de comunicar. Sagrado é a sinergia entre todos os reinos e todas as galáxias. Sagrado é o sentir do universo. Sagrado é respeitar a cada partícula, a cada elemento, a cada organismo com o amor e a humildade do nosso por vir.

Podemos prezar pela energia elétrica, pela tecnologia, pela inteligência artificial, mas prezemos com igual coragem, vigor e determinação àquilo e àqueles que nos constituem, nos circundam, nos conectam ao presente. Existia um mundo antes de nossa existência. Existirá um mundo após a nossa extinção.

Legado é o que buscamos? Superioridade é o que sentimos? Maestria é o que fazemos?

Nossos rastros relatam outras percepções.

Passemos a ouvir ao Sagrado.

O que te traz à esta existência? E o que te leva para a próxima?

Escrito por @Lu_RSR