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Escritas 25.09.01 - A ESSÊNCIA DAS PERCEPÇÕES

  • Foto do escritor: Lu_rsr
    Lu_rsr
  • 18 de set.
  • 4 min de leitura

Hoje passeio pelo mundo dos devaneios, das desventuras, do surrealismo. Eu estou nas memórias desacreditadas, nas imagens desvirtuadas, nos afetos desintegrados. Medo de sonhos. Sonho de medos. Visões deturpadas. Percepções afloradas. Quem cativa ao amor pelas mãos, ao ódio pelas figuras, à paixão pelos bolsos, ao desprezo pelas falas?


Falam em origens e destinos quando eu sou o impossível. O caminho do invisível. O sentido do invertido. O contexto do figurado. Eu teço a nossa passagem com o descosturar dos nossos escopos, dos nossos juízos, das nossas liras. A mim chamam de Chapeleiro Louco, mas, para os convidados, sou o fanatismo enchapelado. Ou a realidade intrínseca, vestida, afrontada?


Crio e recrio as colchas das mentes. Excêntricas e personificadas. Autênticas e delicadas. Ingênuas e desoladas. Habilidade, competência, história ou jornada? Quem me chama? Quem me clama? A gravidade me puxa para a juventude das indústrias. Um vestir às ideias, aos sonhos, aos ideais. Ou um retalhar de almas? Entre os teceres de chapéus, vesti às minhas memórias.


Memórias de tempos em que o possível era alimento e o abstrato era moradia. Em que aprender era um sentimento e observar era uma realidade. Em que o amor era uma ciranda e o céu era um terrário. Em que o processo era uma aventura e o desafio era uma irmandade. Em que tocar era um cuidado e mover era um composto. Em que o delírio era um chamado e a paz era um legado.


Acordo com as sinfonias, as cantorias, as maestrias dos enquadrados, dos apequenados, dos enchapelados. Entre vozes caladas e ouvidos estafados, nos abdicamos na sangria das nuvens. Nos encontramos no abismo das esferas. Nos vemos na esperança dos vaga-lumes. Ou retornamos ao começo. O começo sem fim, nem futuro. O começo da conformidade. O começo da escalabilidade.


Uma docilidade que, em estações de descrença, incoerência, exaustão, destrói à materialidade. Por que me extrai, me aprisiona, me condena? Só quero sentir. Só quero viver. Só quero ser a simples existência dessa complexidade de mundos. Quais desses presentes são nossos? Primaveras, verões, outonos e invernos de objetos, imagens, conjunções que desvirtuam minhas lembranças.


Lembranças de lugares onde o coletivo era único e plural. Onde a natureza era pátria e respiro. Onde o afeto era espontâneo e profundo. Onde a Terra era arco e íris. Onde o humano era ser e parte. Lembranças de estados onde os astros eram vozes e as mãos eram percepções. Onde as texturas eram descobertas e os breus eram retiros. Onde os saberes eram missões e as alegrias eram repartições.


Acordo na contemporaneidade do infinito. Ou do indevido?


Crianças e idosos passam por mim como os feltros descartados. Como posso costurar sem a essência do viver? Você voltará antes do adeus. Assim como eu me entrego às névoas, às febres, aos afetos. Permito que passem, me atravessem. Permito que sigam seus caminhos sem esperas, nem hospedagem. Fluímos para o amanhã e o ontem. Para o breve e o eterno. Para o real e o inimaginável.


Nas profundezas do nosso sangue, existimos. Guardamos aos segredos esquecidos. Compartilhamos a origem do Universo. Água que navega, mar que regenera, onda que move. Ou veias que limpam, artérias que pulsam, sistemas que entrelaçam. Percebemos ou somos percebidos? Quem me integra é quem me prospera. Quem transformo é quem inspiro. Quem questiono é quem compartilho.


Superação ou resiliência? Realização ou aprendizagem? Propósito ou humildade? Costuro os horizontes perdidos, os céus desaguados, as estrelas desgastadas às emergências floridas. Costuro o amor ao cerne da ira. Costuro o respeito ao cerne da mais valia. Louco ou loucos? Renascer é rever, repensar, reabitar. É libertar, oportunizar, circular. É apreciar, colorir, integrar.


Ainda menino, roubam ao meu foco, à minha atenção, à minha presença. Com a repetição dos meus comportamentos. Com a expectativa das minhas emoções. Com a formatação dos meus chapéus. As construções vestem às minhas florestas. Os veículos vestem aos meus pisos. As canalizações vestem aos meus rios. As revoluções vestem aos meus sentidos. Como posso ser vivo?


Nos banham em imagens e promessas de um novo mundo. Nos vestem com experiências e jornadas aromatizadas. Nos injetam numa complexidade desvirtuada. Quando meu sonho se resumia a fazer chapéus. Fazer chapéus para quem apreciasse minha expressividade, minha vocação, meu amor pela minha comunidade. Nunca me ouviram. Só me instruíram e esperaram. O meu, não eu.


Esqueceram quem sou. Esqueceram quem são. Esqueceram quem somos. Entre vapores e rumores, a realidade se desfaz. Hoje estou em delírio e, você, está no caminho. Amanhã estarei em juízo e, você, no prejuízo. Teme a mim ou a nós? Em uma sociedade que descolore a nossa existência, eu me desconecto. Busco ao respiro junto à diversidade ancestral. Busco ao abrigo junto à sinergia universal.


Por que me reduzem a superfícies de substantivos e adjetivos? Ou nome próprio? Você é parte da minha dimensão ou desilusão. Eu sou parte da sua produção ou ideação. Distorcido ou distorcidos? De sanidade, só os loucos sabem. Na sublimação do encontro, um chapéu entre personalidades. Uma história entre percepções. Um elo entre facções. Ouça. Veja. Sinta. Ou me cria?

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Escrito por Lu_rsr

 
 
 

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